Nem sempre é possível nomear os símbolos que nos tocam.

Às vezes, eles apenas surgem — em imagens, gestos, lembranças — como se carregassem verdades antigas que já habitavam em silêncio, à espera de serem ouvidas.

Foi nos galhos em forma de coroa, no movimento cauteloso e na forma de observar o mundo que surgiu o primeiro vislumbre: o cervo

Animal de presença discreta, mas profundamente simbólica, o cervo não se exibe. Observa. Escuta. Escolhe com precisão onde pisa, para onde vai - e, sobretudo, o que deixa para trás.

Na mitologia grega, esse símbolo encontra ressonância em Ártemis — deusa da natureza selvagem, da caça e das mulheres. Única entre os deuses a recusar o casamento, ela escolheu a liberdade como caminho. Ártemis era indomável — não por rebeldia, mas por essência.

E o cervo era seu animal sagrado.

Em um de seus mitos mais emblemáticos, um homem que invade sua intimidade ao espiá-la em banho é transformado em cervo — e, em seguida, caçado por seus próprios companheiros. Como se o universo deixasse claro: nem tudo que é belo pode ser tocado. Nem tudo existe para ser possuído.

O cervo, assim, transcende a beleza. Torna-se símbolo de limite. De autonomia. De tudo aquilo que é raro e íntegro 

Nesse espelho, revela-se a imagem da mulher que habita a própria inteireza. Aquela que tem consciência do corpo, do tempo e do próprio caminho.

Uma mulher que não faz para agradar, nem se molda ao que esperam. Ela escolhe, com lucidez, ser fiel ao que é.

Ela não precisa ser compreendida — precisa ser respeitada.

Na natureza, o cervo tem papel crucial. Espécies como o veado-vermelho, o sika, o cervo-do-pantanal ou o alce carregam, cada um em sua região, a responsabilidade de manter os ciclos vivos. Espalham sementes, regeneram florestas, guiam movimentos. E é a fêmea quem lidera. Cuida do bando — mas sabe a hora de seguir sozinha.

A sabedoria de parar, observar e seguir só quando for verdadeiro.

Carregar este emblema é lembrar: você não está aqui para ser domada.

Está aqui para guiar. Para decidir. Para deixar seu próprio rastro.

Por Carolyn